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Serviços e núcleos pressionados explicam deflação menos intensa do IPCA em agosto

10 de setembro de 2025 |
11:35
Imagem: Reprodução

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A queda de -0,11% na inflação oficial de agosto foi menor do que a expectativa de mercado (em torno de -0,15%). Segundo economistas, a deflação reflete efeitos temporários de queda de preços em alguns setores, e ainda não traz sinais de melhora estrutural na inflação. Por isso, a leitura dos dados recomenda cautela, já que os núcleos da inflação seguem persistentes, e os empregos e salários em alta pressionam a demanda por serviços.

Pelo lado de alta nos preços, o resultado foi puxado por bens industriais, sobretudo automóveis novos, vestuário, e uma deflação menor que a esperada em energia elétrica. Nos destaques baixistas, houve queda em grupos da alimentação no domicílio e administrados.

Na avaliação de Leonardo Costa, economista do ASA, o resultado de agosto refletiu sobretudo efeitos temporários, ainda sem sinal de melhora estrutural da inflação – como energia elétrica. “O núcleo também veio poluído: descontos passageiros em recreação (semana do cinema) reduziram artificialmente o índice e devem pressionar o IPCA de setembro, enquanto cuidados pessoais, dentro de bens mais voláteis, exerceram pressão positiva. O alívio tende a ser temporário, já que os serviços permanecem pressionados pela demanda doméstica”, afirma.

 

Pressão sobre preços

Alexandre Maluf, economista da XP, destacou a surpresa dos resultados em bens industrializados, sobretudo automóveis novos. “A gente tinha expectativa de queda de -1,6% no mês, tendo em vista os descontos do IPI, mas essa queda não apareceu no IPCA, embora tenha se refletido no IPC-FIPE. Foi registrado queda de apenas -0,44%”, afirma.

Em vestuário, houve deflação de -0,54% em julho, e esperava-se um recuo de -0,35% em agosto. Mas o dado acelerou para 0,72%, cita Maluf em sua análise.

Houve avanço também em Educação, devido aos reajustes e à época de matrículas, o que levou o indicador a avançar 0,75%.

Lucas Barbosa, economista da AZ Quest, afirmou que o resultado do IPCA reflete resultados piores que o esperado, reforçando a tese de que os serviços seguirão pressionando ao longo dos próximos trimestres.

“Especialmente na parte dos núcleos de serviços subjacentes, todos os serviços intensivos em mão de obra, serviços de sociabilidade, todas as leituras foram um pouco piores do que o estimado. Destaco a parte de serviços estéticos, como cabeleireiro, barbeiro, manicure, todos esses itens registraram variações piores do que o esperado”, disse Barbosa.

Em alimentos, Barbosa diz que a deflação veio em -0,83%, quando a expectativa era de 1%. A surpresa veio de aves, ovos e panificados.

A estabilidade do núcleo da inflação em 0,3% demanda cautela, indicando que o processo de desinflação esteja perdendo força na margem, segundo André Valério, economista sênior do Inter.

 

Alívio temporário

Os alívios na inflação vieram de movimentos temporários, como o reflexo da queda de preços devido à Semana do Cinema, que teve descontos nos ingressos, e resultou em queda de 4% no indicador de agosto, o que deve ser revertido em setembro.

 

 

A energia também registrou deflação, mas devido à distribuição do bônus de Itaipu, o que aliviou a alta de preços devido ao acionamento da bandeira 2. Houve também redução de preços em passagens aéreas.

Em alimentos no domicílio, a deflação de -0,83% foi puxada por produtos in natura, o que era esperado, na análise de Maluf.

No acumulado de 12 meses, a alimentação em domicílio segue arrefecendo, acumulando 7,01% na variação interanual contra 7,11% na variação interanual até o mês de julho.

 

Projeção da inflação

Barbosa destaca que os resultados mostram uma composição pior para o ano, especialmente em serviços e média de núcleos em que diversas aberturas mostram uma composição pior da leitura.

Para a XP, a leitura do IPCA de agosto não muda a perspectiva para o ano. Eles mantêm a projeção de inflação em 4,8% em 2025 e de 4,5% em 2026.

Na AZ Quest, a projeção para o ano fechado de 2025 segue em 4,6% e em 4% para 2026.

Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, comentou que a inflação de setembro, principalmente o comportamento dos núcleos de serviços, serão essenciais para avaliar o efeito da demanda sobre o comportamento dos preços. “Mantemos nossa expectativa de intensificação da desaceleração da demanda nos segundo semestre e, consequentemente, continuidade da desaceleração da inflação”, diz.

 

Corte de juros

Para Maluf, da XP, a surpresa, inclusive altista, foi pontual. Ele espera que as leituras venham moderadas para itens industrializados nos próximos meses, mas destaca que a média dos núcleos voltou a acelerar em 12 meses – saindo de 5,11% para 5,16%.

“Reiteramos que os dados de mercado de trabalho apertado aqui no Brasil, e os salários em alta, devem continuar pressionando a inflação dos serviços”, o que exige cautela em um possível corte de juros.

Barbosa segue a mesma análise. “Para o Banco Central, a leitura reforça a cautela e deve levar a uma postura dura neste próximo Copom, reforçando a mensagem de juros mais altos por mais tempo”, avalia. Apesar disso, a AZ Quest mantém o call de corte na taxa de juros a partir de janeiro.

Valério também vê um Copom mais cauteloso na próxima reunião sobre juros. Para ele, os diretores devem receber como boas notícias os dados recentes da economia brasileira, mas ainda julgando insuficiente para iniciar a discussão de flexibilização da política monetária.

“De fato, a persistência da inflação de núcleo e da inflação de serviços, que acumula alta de 6,14% nos últimos 12 meses, demanda uma política monetária restritiva por um período mais longo. Por outro lado, ainda há muito do atual aperto monetário a ser transmitido para a economia real e para a inflação, e esperamos que tais efeitos sejam sentidos de maneira mais intensa a partir da virada do 3º trimestre para o 4º trimestre”, avalia.

Para ele, o Copom deve começar os cortes em dezembro, em 50 pontos base.

Fonte: InfoMoney