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Ouro ou dólar: qual investimento oferece hoje rentabilidade sem abrir mão da proteção

31 de outubro de 2025 |
07:21
Imagem: Adobe Stock

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O velho dilema entre dólar e ouro voltou a ganhar força nas conversas entre investidores nas últimas semanas. Depois de despencar mais de 6% na semana passada, o metal precioso recuperou parte das perdas com o aumento do risco geopolítico no início desta semana, lembrando por que continua sendo considerado um porto seguro em tempos turbulentos. O ouro chegou a ser negociado a US$ 4.381 por onça, uma máxima histórica, antes de recuar para perto de US$ 4.050, conforme o alívio momentâneo nas tensões entre Estados Unidos e China reduziu a busca por proteção.

Enquanto isso, o dólar também tem mostrado seu lado volátil. A moeda americana, que chegou a R$ 6,26 em dezembro de 2024, vinha oscilando entre R$ 5,50 e R$ 5,70 neste ano, mas recentemente recuou para níveis abaixo de R$ 5,40. Na segunda-feira (27), por exemplo, o dólar à vista fechou em baixa frente ao real, acompanhando o enfraquecimento da moeda norte-americana em relação a outras divisas e reagindo ao encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em mais uma etapa das negociações comerciais entre os dois países.

Para especialistas, não se trata de escolher um vencedor. Segundo Welinton dos Santos, conselheiro do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP), o dólar garante liquidez e acesso ao mercado financeiro mais dinâmico do mundo, enquanto o ouro funciona como um seguro, valorizando-se quando os ativos de risco perdem força.

O metal, diz ele, segue como refúgio clássico em tempos de tensão, embora suas oscilações recentes tenham levado investidores a reavaliar posições. Já o dólar, mesmo diante dos sinais de desaceleração da economia americana, continua sendo o abrigo mais procurado em períodos de incerteza. “A decisão deve levar em conta não apenas a situação atual, mas também as expectativas futuras para a economia global e a inflação”, diz.

Ainda assim, Leonardo Andreoli, analista da Hike Capital, avalia que algumas diferenças recentes mostram uma leve vantagem do ouro diante do aumento de riscos globais. O metal registra alta de cerca de 50% até outubro deste ano, beneficiada pela procura como proteção contra inflação, desvalorização de moedas e preocupação com sistemas financeiros frágeis.

O dólar ainda representa cerca de 58% das reservas oficiais internacionais em 2024 e 2025 e mantém seu status de moeda de reserva global, mas apresenta sinais de desgaste, como queda do índice DXY, perda de confiança e movimentos de dedolarização. Para Andreoli, ao escolher um único ativo em um período de maior instabilidade, o ouro aparece como opção mais segura no curto e médio prazo, oferecendo proteção contra a perda de valor das moedas e a quebra de confiança nos mercados, sem que isso signifique descartar totalmente o dólar.

Ouro e dólar: oportunidades com cautela
Andreoli também observa que o movimento recente mostra que o ouro segue bastante sensível ao humor dos mercados: pode oferecer chance de entrada para quem aposta na continuidade dos riscos geopolíticos e inflacionários, mas também exige cautela, já que o curto prazo tende a ser marcado por correções bruscas. Relatórios indicam, inclusive, que a correlação entre ouro, dólar e ativos de risco vem se enfraquecendo, tornando o momento de compra mais difícil de prever.

 

 

O dólar, por sua vez, continua sendo o principal porto seguro global, embora apresente sinais de desgaste. O analista afirma que a moeda ainda domina o comércio internacional, as reservas dos bancos centrais e o mercado de dívida, mas a recente queda de 10% a 11% na primeira metade deste ano, a maior em décadas, acendeu um alerta.

Em alguns momentos de estresse, dólar, ações e títulos chegaram a cair simultaneamente, o que coloca em xeque a ideia de proteção absoluta. Para o investidor, segundo Andreoli, entender essas nuances é fundamental para equilibrar a carteira entre segurança e oportunidade.

“Isso significa que embora o dólar mantenha seu status técnico, sua eficácia como hedge puro está sujeita a condições excepcionais, e num ambiente de crise severa (fiscal, política, monetária) ele deve oscilar. Para o investidor brasileiro isso exige que se considere a dependência cambial, o risco Brasil e a inflação doméstica”, avalia.

Ouro x dólar: como o investidor brasileiro deve se posicionar?
Para o investidor brasileiro, a disputa entre ouro e dólar reforça a necessidade de manter um portfólio com exposição a ativos em moedas fortes, principalmente o dólar. Segundo Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, investir em dólar vai além da compra da moeda: envolve acessar ações, títulos e fundos imobiliários (Reits) negociados nos Estados Unidos e, portanto, denominados na moeda americana.

Ele lembra que os Estados Unidos concentram o maior mercado financeiro do mundo, abrigam algumas das maiores empresas globais e setores na vanguarda da inovação. Ter participação nesse universo, afirma Shahini, permite diversificação e potencial de crescimento no longo prazo.

Outro ponto importante é que esses ativos, precificados em dólar, funcionam como uma proteção natural contra a alta do custo de vida e a inflação doméstica, além de oferecer defesa frente às incertezas políticas, fiscais e institucionais, cuja principal transmissão ocorre via câmbio.

Shahini afirma que há espaço para combinar ouro e dólar em uma mesma carteira. O ouro, integrante da classe dos chamados ativos alternativos, complementa a alocação tradicional de ações e títulos de renda fixa, oferecendo proteção em períodos de instabilidade.

Para investidores conservadores, a decisão depende do modelo de alocação da carteira, já que o ouro apresenta volatilidade histórica próxima à de índices acionários de economias desenvolvidas, como o S&P 500. “Se o investidor conservador não possui renda variável na carteira, o ouro também não teria espaço”, explica.

Em carteiras que já incluem renda variável, o ouro pode funcionar como complemento às ações. “Em meus modelos, utilizo uma exposição de cerca de 5% da parcela destinada à renda variável. Dessa forma, um investidor que teria 40% em ativos de renda variável passa a ter 35% em ações e 5% alocados em ouro”, completa.

Fonte: InfoMoney