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Copom mantém Selic em 15%, e tom contraria expectativa de parte do mercado

6 de novembro de 2025 |
06:52
Imagem: Reprodução

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O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 15% na reunião que terminou nesta quarta-feira (5), o que reforçou o tom de cautela, sem sinalizar cortes no curto prazo.

Esta é a terceira reunião sem cortes, desde que a Selic atingiu 15% em junho.

A expectativa de parte do mercado era de que o Banco Central ajustasse as expressões usadas nos últimos comunicados, abrindo espaço para uma maior flexibilidade na política monetária nas próximas reuniões.

Mas o comunicado trouxe poucas mudanças, na avaliação de Leonardo Costa, economista do ASA. “Lemos [o comunicado] como neutro/hawk. Houve pouca mudança, com pequena redução na projeção de inflação no seu horizonte relevante. O tom segue mais duro, contrariando a expectativa de parte do mercado”, afirma.

“O comunicado pode ser interpretado como ligeiramente hawkish pelo mercado, mas neutro em relação à visão majoritária dos economistas”, afirma Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos. “A barra para cortes em janeiro ficou um pouco mais alta, mas ainda há tempo até lá”, diz.

 

Tom cauteloso

O Comitê reforçou o tom de cautela na condução da política monetária, e manteve o trecho em que cita a manutenção dos juros em patamar elevado por período prolongado: “Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.”

O mercado esperava uma sinalização mais suave sobre a política monetária. “Há um cenário de desinflação, melhora gradual da expectativa de inflação e um juro real ainda entre os mais altos do mundo – o que permitiria uma postura mais branda sem comprometer a credibilidade da política monetária”, avalia Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.

Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, destaca que a decisão foi unânime, como esperado, mas o tom surpreendeu. “Ele seguiu a mesma linha do último comunicado, só que como nós tínhamos uma expectativa que ele já sinalizaria uma possível mudança de rota no futuro, ele não fez isso. Então, no meu entendimento, ele manteve o tom duro da ata quando todo mundo já estava imaginando uma sinalização um pouco mais tranquila”, avalia.

Camilo Cavalcanti, gestor de portfólio da Oby Capital, destaca, ainda, que o comunicado mantém a avaliação de cenário externo incerto, reforça a trajetória de moderação no crescimento econômico, como era esperado, e um mercado de trabalho dinâmico.

 

Inflação em queda

A novidade em relação ao comunicado anterior veio na comunicação sobre a inflação, destaca Bolzan.

“O Copom reconhece que a inflação está arrefecendo, o que é muito positivo, mas que ainda assim se mantém acima da meta. Foi um dos pequenos ajustes que foram feitos da última comunicação para essa”, analisa.

A Warren destaca que o horizonte relevante de política monetária foi deslocado do 1º para o 2º tri de 2027, e a projeção de inflação recuou de 3,4% para 3,3%, em linha com as expectativas de mercado. A projeção para os preços livres também diminuiu, de 3,3% para 3,2%, enquanto a de administrados passou de 3,8% para 3,5%. Os economistas da instituição, Luis Felipe Vital, Cecilia Mazzoni e Thais Borges, afirmam que o Comitê reforçou a redação de que entende que a manutenção da taxa no nível atual é suficiente para a assegurar a convergência à meta. “O ajuste na redação é compatível com o movimento feito na última ata, no qual sinalizou que esse é o nível terminal deste ciclo”, dizem.

 

 

“A projeção de inflação do BC para o prazo relevante da política monetária já está em 3,3%, bem próxima do centro da meta. Com a manutenção do atual cenário de câmbio favorável e desaceleração da atividade, a queda da inflação deve seguir consistente, ainda que lenta, observada tanto em bens como serviços”, afirma Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter.

Volnei Eyng, CEO da Multiplike, diz que a decisão reforça o compromisso com o controle da inflação, que segue próxima do teto da meta, e reflete preocupações com o cenário fiscal e a resiliência do mercado de trabalho. “Nesse momento, adiantar a redução da Selic, embora a inflação esteja se aproximando do teto da meta, levaria a uma redução da curva de juros curta, mas no médio e longo prazo essa curva de juros aumentaria”, analisa. Para ele, manter o remédio forte agora ajuda a reduzir o juro médio futuro.

 

Menor volatilidade

Para Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, o tom de cautela do comunicado reforça a avaliação de uma política monetária estável. “A manutenção dos juros reduz a volatilidade, permite planejamento e confirma que o Brasil atravessa o ciclo de aperto monetário com credibilidade intacta. A confiança institucional é o principal resultado desse equilíbrio”, diz.

 

Ciclo de cortes

Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, afirma que a instituição mantém a projeção de início do ciclo em março e taxa terminal de 11,5%, com viés altista.

A GCB Investimentos projeta o início do ciclo de cortes da Selic em janeiro de 2026, com a taxa básica podendo encerrar o ano em 12,0% a.a., condicionada à reancoragem das expectativas e ao fortalecimento dos fundamentos fiscais e macroeconômicos, afirma Lucas Constantino, estrategista-chefe da GCB Investimentos.

 

Freio produtivo

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) afirmou que a manutenção da taxa Selic em 15% ao ano freia a produção e enfraquece a indústria. “Com a Selic elevada por mais tempo, as empresas terão mais dificuldade para financiar capital de giro e investir em novos projetos”, alerta Flávio Roscoe, presidente da entidade.

Para Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a manutenção da Selic é um “duro golpe” na economia e na competitividade da indústria. Para Alban, com a expectativa de inflação nos próximos 12 meses de 4,06%, o juro real no ano fica acima de 10%, o que inibe o investimento produtivo, afeta o consumo das famílias e penaliza especialmente as camadas de menor renda.

Segundo o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, o setor de construção recebeu com preocupação a manutenção da taxa básica de juros em 15%. “O prolongamento ameaça frear investimentos na construção, comprometendo novos lançamentos imobiliários e a geração de empregos”, avalia. “Uma Selic de 15% por um ciclo longo traz desafios, porque o setor depende de financiamento de longo prazo, e esse custo torna muitos projetos inviáveis”, explica.

Fonte: InfoMoney