O Ibovespa subiu 2,26% em outubro e registrou mais um mês – o terceiro seguido – de ganhos. Este foi o oitavo mês do ano positivo – apenas fevereiro e julho ficaram negativos. O Ibovespa já sobe 24,33% no ano.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa avançou 0,52%, a 149.549 pontos, segundo dados preliminares. A última série de oito ganhos aconteceu em agosto de 2024. Uma sequência maior, apenas em julho do ano passado, com 11 altas.
Na máxima do dia, o Ibovespa alcançou 149.635,9 pontos. Na mínima, registrou 148.773,79 pontos.
“Há fundamentos para esse movimento do Ibovespa, de vários dias de alta. Nesta semana houve o segundo corte seguidos nos juros nos Estados Unidos”, afirma Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Conforme ressalta Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital, o novo recorde, na sessão, reflete os movimentos do juros futuros em queda e balanços corporativos positivos, em especial da Vale (VALE3), que surpreendeu o mercado com lucro acima das projeções.
“Vejo que o mercado, de certa forma, mostra disposição em ‘fechar os olhos’ para o risco fiscal no curto prazo e continuar surfando o bom humor global”, aponta o especialista.
Na visão do analista Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, o movimento reflete uma confiança na resiliência do mercado local, sustentado por lucros corporativos sólidos e por uma visão de que o ciclo de cortes de juros no Brasil e no mundo deve ganhar fôlego nos próximos meses.
“Ainda assim, é um momento que exige atenção: quanto mais o índice se aproxima de patamares recordes, maior é a sensibilidade a revisões de expectativa e movimentos abruptos de correção”, ponderou.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o tom é parecido. Balanços fortes das big techs como Amazon e Netflix trouxeram alívio após uma semana de volatilidade. O mercado americano segue tentando calibrar as apostas sobre o Federal Reserve, que ainda sinaliza cautela e evita confirmar novos cortes de juros em dezembro. “Acredito que esse mix entre lucros robustos e juros controlados continua sustentando o apetite por risco nas Bolsas”, aponta.
A semana foi de forte apetite por risco, com o investidor voltando às compras em meio a um ambiente externo mais construtivo e à perspectiva de estabilidade monetária no Brasil. O Ibovespa seguiu quebrando recordes, sustentado pelo otimismo global e por resultados corporativos sólidos, enquanto o dólar teve comportamento contido e os juros futuros recuaram levemente.
Lá fora, na semana, o tom foi de transição nas expectativas de política monetária. O Fed cortou a taxa básica dos Estados Unidos em 0,25 ponto, para a banda entre 3,75% e 4,00%. Apesar da leitura inicial mais dovish (branda, de corte de juros), o discurso de Jerome Powell esfriou o entusiasmo ao reforçar que o caminho até a meta de 2% de inflação ainda está longe, o que reduziu as apostas em novos cortes neste ano. A votação dividida mostrou que o Fed continua em terreno de incerteza e isso explica a volatilidade recente no dólar e nos Treasuries.
Além disso, agentes financeiros repercutiam dados do IBGE mostrando que a taxa de desemprego no Brasil encerrou o terceiro trimestre em 5,6%, com o menor contingente de pessoas sem trabalho da história.
Na visão da equipe do Goldman Sachs, as condições monetárias restritivas e a moderação do crescimento econômico ainda não geraram um ponto de inflexão visível e consistente no mercado de trabalho, conforme relatório enviado a clientes.
“O crescimento do emprego está desacelerando nas margens, mas o cenário do mercado de trabalho continua apertado”, afirmou.
A agenda do dia também trouxe dados da dívida pública bruta do país como proporção do PIB, que fechou setembro em 78,1%, contra 77,5% no mês anterior. Já a dívida líquida do setor público foi a 64,8%, de 64,2%.
Iarussi ressalta que agora a expectativa é para o Copom, na próxima quarta (5). “O consenso aponta para manutenção da Selic em 15%, mas acredito que o mercado vai olhar cada palavra do comunicado. O Banco Central deve reconhecer a melhora no ambiente inflacionário e o tom mais previsível do exterior, mas acredito que dificilmente abrirá espaço para sinalizar cortes no curto prazo. O tom tende a ser equilibrado, porém vigilante, reforçando o compromisso com a ancoragem das expectativas”, avalia.
Cabe ressaltar que o JPMorgan apontou que, até o fim do ano, o Ibovespa tem espaço para chegar aos 155 mil pontos. Para isso, três pontos estão no radar: 1) A inflação e as expectativas de inflação estão em queda, permitindo que as taxas de juros (Selic) caiam mais cedo. O JPMorgan Chase prevê cortes de 4,25 pontos percentuais e, quanto mais o Banco Central do Brasil (BCB) demorar para iniciar o afrouxamento monetário, mais rápido terá que agir quando começar. 2) O Federal Reserve cortará as taxas de juros em 29 de outubro e a expectativa é por mais dois cortes. As estrategistas acreditam que o afrouxamento monetário do Fed desta vez é um importante impulso para as ações da América Latina. 3) Melhoria no cenário tarifário, tanto entre EUA e China quanto entre EUA e Brasil.
(com Estadão Conteúdo e Reuters)


