Lives de

Planejamento

no Domingão do Guilhermão

Cadastre-se

Agora Mesmo

pelo APP ou SITE

Shutdown nos EUA: entenda o impacto nos vistos de trabalho para brasileiros

28 de outubro de 2025 |
05:46
Imagem: Reprodução

Compartilhar:

A paralisação parcial do governo dos Estados Unidos, o chamado shutdown, iniciada em 1º de outubro de 2025, já começa a se refletir sobre os processos de visto e imigração, inclusive para brasileiros. Embora ainda não ocorra um apagão total, a interrupção de parte das atividades federais criou gargalos entre órgãos interdependentes, afetando etapas cruciais de autorizações de trabalho, green cards e outros trâmites migratórios.

Segundo especialista ouvido pelo InfoMoney, o efeito desigual se deve ao fato de que parte do sistema é autofinanciada por taxas e continua operando, enquanto outras dependem de recursos do Congresso americano, hoje bloqueados pela falta de acordo orçamentário.

O U.S. Citizenship and Immigration Services (USCIS), por exemplo, é financiado pelas taxas de aplicação e segue operando normalmente. Por outro lado, departamentos que dependem de dotação orçamentária direta, como o U.S. Department of Labor (DOL) ficaram paralisados.

“No USCIS os pedidos continuam avançando. O que atrasa são as etapas que dependem de outros departamentos que estão parados, e é aí que nascem os gargalos”, explica Fabiano Rocha, CEO e fundador da Jumpstart Immigration, startup de tecnologia voltada à análise de dados migratórios.

 

Filas e espera

Na prática, consulados e embaixadas dos EUA no Brasil seguem funcionando, mas já com filas mais longas e prazos ampliados. No início de outubro, os perfis oficiais nas redes sociais informaram que as atualizações seriam limitadas “até a retomada total das operações, exceto para informações urgentes de segurança”. Passaportes e vistos seguem sendo processados “enquanto a situação permitir”.

Fronteiras e aeroportos também permanecem abertos, já que órgãos como Customs and Border Protection (CBP) e Transportation Security Administration (TSA) são considerados serviços essenciais. Mesmo assim, há relatos de filas e inspeções mais demoradas devido à sobrecarga de servidores.

Um dos primeiros setores a sentir o impacto foi o dos estudantes internacionais. O sistema E-Verify, usado por empresas para validar autorizações de trabalho, ficou fora do ar por quase uma semana.

“Esse sistema é essencial para estudantes. Quando ficou inativo, quase um milhão de alunos ficaram temporariamente impedidos de estagiar. Por isso o governo correu para restabelecer o serviço”, diz Rocha.

O E-Verify voltou a operar em 7 de outubro, restabelecendo a emissão de autorizações e a regularização de pendências, mas o episódio ilustra o efeito dominó causado pela paralisação.

 

Vistos travados

O impacto mais severo ocorre nos vistos de trabalho e green cards baseados em emprego, que dependem de etapas conduzidas pelo DOL. O sistema FLAG, usado para aprovar salários prevalecentes (prevailing wage) e certificações laborais (LCA e PERM), está fora do ar desde o início do shutdown.

“Sem essas aprovações, empregadores não conseguem avançar com os vistos H1B nem com os green cards vinculados a empregos, mesmo que o caso esteja regular no USCIS”, explica Rocha. “Na prática, as pessoas estão presas nos próprios trabalhos. Estimamos entre 40 mil e 80 mil profissionais impossibilitados de mudar de emprego por conta da paralisação”, diz o CEO da startup de tecnologia baseado em suas análises de dados migratórios.

O H1B, principal visto de trabalho para profissionais qualificados, foi recentemente alvo de polêmicas após o anúncio de uma taxa de US$ 100 mil para aplicações feitas fora dos Estados Unidos. A medida, segundo Rocha, causou pânico inicial, mas foi posteriormente esclarecida. “Quem já está nos EUA não será afetado, apenas quem aplica de fora.”

 

 

Busca por alternativas

Com o impasse político e os atrasos, muitas empresas de tecnologia passaram a buscar alternativas de vistos, como o B1 (habilidades extraordinárias) e o EB1 (green card por mérito), que não dependem das etapas travadas no DOL.

“As Big Techs perceberam que não dá para depender de um sistema paralisado. O caminho tradicional do H1B virou um gargalo e o visto de mérito passou a ser a principal alternativa”, observa Rocha.

O próprio mercado mostra reflexos dessa migração: 2025 já registra recorde de 85 mil green cards por mérito emitidos, um dos maiores volumes da história americana.
Segundo o CEO da Jumpstart, a tendência é de “pejotização migratória” dos profissionais, com muitos optando por vistos de empreendedor ou de autônomo.

 

Impacto para brasileiros

Apesar do cenário desafiador, o impacto sobre brasileiros é considerado relativamente pequeno se comparado a outras nacionalidades.

“O H1B tem forte predominância de indianos e chineses, que respondem por cerca de 90% das aplicações. Os brasileiros são menos de 3 mil ao ano”, explica Rocha. “Com as regras atuais, apenas um terço, algo em torno de 900 pessoas, pode ser afetado diretamente.”

Ele destaca ainda que os brasileiros com processos já em andamento nos EUA seguem praticamente sem prejuízo, e que os maiores riscos recaem sobre quem inicia a aplicação a partir do Brasil.

 

Loteria penaliza salários baixos

Além do shutdown, uma mudança recente nas regras da loteria do H1B tende a reduzir pela metade as chances de permanência de estudantes de graduação. Antes baseada em sorteio, a seleção agora considera critérios salariais.

“Na nova fórmula, quem tem salário mais alto, geralmente mestres e doutores, ganha prioridade. Já os recém-formados, que ganham menos, veem suas chances caírem de 20% para algo em torno de 10%”, calcula Rocha. “Ainda não há dados oficiais, mas o cenário é claro: ficou duas vezes mais difícil ficar nos EUA com visto de trabalho após a graduação.”

 

Cautela e planejamento

Enquanto durar a paralisação, especialistas recomendam planejamento adicional e organização documental. Quem depende de etapas no DOL deve revisar prazos e ajustar cronogramas, enquanto viajantes são orientados a levar documentos de suporte, como cartas-convite e comprovações de vínculo empregatício.

“A orientação geral é manter a calma e alinhar expectativas com a consultoria responsável pelo processo. O shutdown é temporário, mas o acúmulo que ele gera pode durar meses após o fim da paralisação”, conclui Rocha.

Fonte: InfoMoney