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IPCA-15: Alimentação em domicílio faz prévia da inflação subir abaixo do esperado

24 de outubro de 2025 |
11:24
Imagem: Mattes/Wikimedia Commons

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A alta de 0,18% no IPCA-15, índice que mede a prévia da inflação, veio abaixo do esperado, pressionado pelos preços de alimentação em domicílio, com deflação em carnes e recuo de itens in natura. Este movimento compensou parcialmente as altas em energia elétrica e serviços.

A média dos núcleos segue avançando abaixo do esperado, trazendo mais uma indicação de que o controle da inflação está caminhando para um recuo mais consistente.

De acordo com Leonardo Costa, economista do ASA, o resultado reforça o caráter benigno da desaceleração, ainda que com ressalvas. “Foram dois meses consecutivos de núcleo de serviços mais fracos, o que é meritório e indica algum alívio das pressões subjacentes, mas parte desse movimento reflete fatores temporários, como promoções pontuais em itens de lazer, a exemplo das entradas de cinema”, explica.

Assim, embora haja sinais de descompressão gradual da inflação, o processo ainda está em fase inicial, e é provável que haja volatilidade nos próximos meses, alerta Costa.

Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), destaca que no acumulado em 12 meses, é a primeira vez neste ano que a inflação está abaixo da casa dos 5% e a expectativa é que encerre o ano um pouco acima do limite de 4,5%.

 

Alimentação em domicílio

Queiroz avalia que a alimentação em domicílio tem contribuído muito para esse processo de desaceleração da inflação. “

Tendo em vista a importância que a alimentação possui no orçamento familiar, especialmente das famílias de menor renda, o resultado de outubro é bastante animador por conta da queda de produtos essenciais como o arroz, o leite, os ovos e a cebola”, afirma.

“O arroz, por exemplo, caiu 1,37%; os ovos caíram 3%. Isso indica que está mais barato encher o carrinho do supermercado”, diz.

 

Bens industrializados

Segundo Costa, a surpresa negativa foi mais espalhada, com queda nos bens industrializados, principalmente em artigos de residência, e arrefecimento do núcleo de serviços, marcado por nova deflação no seguro de veículos.

 

 

O Departamento de Pesquisas Econômicas do Banco Daycoval avalia que os bens industriais ficaram bem abaixo do esperado. Com exceção do etanol que mostrou forte alta, os demais itens do grupo apresentaram comportamento benigno, inclusive com queda de preços como automóveis usados, eletrodomésticos e artigos de tecnologia.

Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, destaca que a deflação em bens industriais pode estar relacionada à forte deflação na China. Para ele, isso é “algo que começa a ficar preocupante em termos de deflação de preços de bens para o consumidor e atacado”.

 

Análise dos números

A desaceleração foi explicada principalmente pela queda em alimentação e bebidas (-0,02%), que recuaram pelo quinto mês consecutivo, com deflação em carnes, arroz e leite, enquanto frutas e óleo de soja registraram altas moderadas, destaca Costa.

Em habitação (+0,16%), a energia elétrica residencial caiu 1,09%, revertendo parte da forte alta observada em setembro com o início da bandeira vermelha patamar 1.

Já transportes (+0,41%) e despesas pessoais (+0,42%) foram os grupos que mais contribuíram para o resultado, impulsionados pelos combustíveis (+1,16%), especialmente etanol (+3,09%) e gasolina (+0,99%), além de passagens aéreas (+4,39%) e serviços ligados a lazer e turismo.

Para Queiroz, a expectativa é de que a inflação mantenha a mesma tendência nos próximos meses, motivada pela safra recorde de grãos, o que deve contribuir com a queda de itens básicos da cesta dos consumidores. Além disso, a taxa de câmbio também contribui para o controle inflacionário, com a valorização do real frente ao dólar. “Acreditamos que o final de ano tende a ser muito melhor para os consumidores, tendo em vista que o poder de compra não será tão afetado como no último ano”, diz.

 

Inflação e impacto na Selic

Nicolas Gass, head de alocação de investimentos e sócio da GT Capital, avalia que o Banco Central não deve alterar a perspectiva do primeiro corte de juros, que por enquanto deve acontecer mesmo no primeiro trimestre do ano que vem.

Pablo Spyer, conselheiro da Ancord, afirma que a inflação segue em trajetória de moderação, mas a composição dos preços ainda preocupa, especialmente pela pressão dos serviços subjacentes e dos itens intensivos em mão de obra. “Isso reforça a leitura de que o combate à inflação deve continuar de forma prudente, sem relaxar prematuramente as condições monetárias”, avalia.

André Valério, economista sênior do Inter, destaca que o resultado de outubro reafirma a tendência recente de desinflação da economia brasileira, com um quantitativo e um qualitativo positivo. Para ele, a expectativa para os meses seguintes é de manutenção dessa tendência, com menores pressões nos combustíveis e energia, enquanto o aperto monetário deve contribuir para manter a inflação de serviços e núcleos em queda. A projeção é que o IPCA encerre 2025 com alta acumulada de 4,7% e que o Copom só inicie o ciclo de cortes em janeiro.

Fonte: InfoMoney