As duras novas tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre mais de 90 países entraram em vigor à meia-noite de quinta-feira (7), dando continuidade à escalada na guerra comercial global que já começa a cobrar seu preço da economia americana.
Poucos dos principais parceiros comerciais dos EUA escaparam das novas alíquotas, que elevaram a tarifa efetiva média norte-americana ao nível mais alto em quase um século. Nas horas que antecederam a aplicação dos tributos, Trump deixou claro que haveria mais por vir, reafirmando sua estratégia que abalou os mercados, elevou preços e causou apreensão entre consumidores e empresas em todo o mundo.
Tarifas contra o Brasil entraram em vigor um dia antes:
Para Olu Sonola, chefe de pesquisa econômica da Fitch Ratings nos EUA, os efeitos das tarifas anunciadas na primavera já começam a aparecer. Com os novos tributos em vigor, afirmou, os americanos verão os impactos se intensificarem nos próximos meses.
As tarifas começam em 15%, aplicadas a importações de países como Bolívia, Equador, Islândia e Nigéria. Outros, como Taiwan, são taxados em 20%. A Argentina e o Brasil também estão na lista com alíquotas ainda maiores: Trump impôs 50% sobre alguns produtos brasileiros, como retaliação à decisão de Brasília de processar Jair Bolsonaro — então aliado político de Trump — por tentar se manter no poder após perder as eleições.
Na quarta-feira (antes da implementação), o presidente anunciou que elevaria as tarifas sobre a Índia para 50% até o fim de agosto, como resposta à compra de petróleo russo por parte do país. Ele também indicou que outros países podem enfrentar sanções semelhantes, como forma de pressionar Rússia a interromper sua guerra contra a Ucrânia.
De modo geral, os tributos não se aplicam a produtos que já estavam em trânsito. Mercadorias embarcadas antes de quinta-feira não serão taxadas, desde que entrem nos EUA até o início de outubro, abrindo espaço para importadores aumentarem seus estoques antes que as alíquotas mais altas afetem seus custos.
Vários países menores já enfrentavam tarifas de 10% desde que Trump anunciou e depois suspendeu a primeira fase de suas políticas em abril. Outros negociaram reservas e agora pagam alíquotas entre 15% e 20%, como a UE (União Europeia), o Japão, a Coreia do Sul e o Vietnã. Esses países se comprometeram a abrir seus mercados aos produtos americanos e, em alguns casos, prometeram investir bilhões nos EUA, mas os termos exatos desses acordos ainda não foram divulgados.
Na sexta-feira, Trump impôs 35% de tarifas sobre produtos canadenses que não estão cobertos pelo Acordo EUA-México-Canadá (USMCA). A aplicação para o Canadá já teve efeito, enquanto tarifas equivalentes destinadas ao México foram suspensas enquanto as negociações continuam. Quanto à China, os tributos permanecem em 30%, conforme o acordo firmado entre os países neste ano — mas a trégua expira nesta terça-feira.
As tarifas de quinta-feira dificilmente serão o capítulo final dessa guerra comercial, que enfrenta diversos desafios legais nos tribunais federais. Trump ainda pretende impor impostos sobre remédios importados, chips e outros produtos estrangeiros.
Na quarta-feira, ele mencionou que as tarifas sobre semicondutores seriam definidas em 100%, embora ainda não tenham sido anunciadas oficialmente. Esse anúncio foi feito ao lado de Tim Cook, CEO da Apple, que prometeu investir mais US$ 100 bilhões nos EUA. Trump indicou que as taxas poderiam ser flexibilizadas para empresas que fabricarem chips de alta tecnologia localmente.
O presidente também minimizou os sinais de impacto negativo em economia, afirmando que “os custos estão muito baixos” e que o país terá um crescimento “sem precedentes”. Ele já havia alegado que os estrangeiros seriam os mais afetados por suas tarifas e, na semana anterior, demitiu o responsável pelo relatório de emprego do governo, ao afirmar sem provas que os dados haviam sido manipulados contra ele.
De acordo com o Budget Lab da Universidade Yale, as novas tarifas elevam a taxa efetiva média dos EUA para mais de 18%, índice não visto desde 1934. Para famílias americanas, isso pode significar um aumento médio de US$ 2.400 nas despesas anuais. Para a economia como um todo, representa redução na produção, com perda de meio ponto percentual no crescimento a partir de 2025.
Para Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics, as tarifas podem criar um ambiente “muito parecido com a estagflação”, ou seja, crescimento lento com alta de preços — o que complicaria ainda mais o trabalho do Federal Reserve, especialmente agora com Trump exigindo cortes na taxa de juros:
“O crescimento está desacelerando. Já está acontecendo e vai se tornar muito mais evidente.”
Até o momento, a economia americana conseguiu evitar as previsões mais sombrias de uma recessão. Mas muitos especialistas afirmam que era apenas questão de tempo até que as tarifas tivessem efeitos reais e perceptíveis — principalmente porque muitas empresas anteciparam compras antes da chegada das alíquotas mais altas.
Matthew Martin, economista sênior da Oxford Economics, explicou que os estoques foram reduzidos desde o primeiro anúncio das tarifas em abril. Com o retorno das alíquotas elevadas, ele disse, os preços tendem a subir novamente:
“Isso vai se acelerar nos próximos meses.”
 
								 
															 
								 
								 
								 
								


