O embate entre o presidente Donald Trump e o bilionário Elon Musk ganhou novos contornos nesta terça-feira (1º), após o republicano insinuar que o empresário poderia ser alvo de deportação. O comentário veio após as críticas de Musk ao projeto de lei orçamentária da Casa Branca, que ele classificou como “insano” e responsável por elevar o teto da dívida dos EUA em US$ 5 trilhões.
Apesar da provocação, Trump não tem poder legal para revogar a cidadania de Musk, nem para deportá-lo. Nascido na África do Sul, o dono da Tesla é cidadão naturalizado dos Estados Unidos, o que lhe garante os mesmos direitos constitucionais de um cidadão nato — exceto o direito de se candidatar à Presidência ou à Vice-Presidência do país.
Juridicamente inviável
Nos Estados Unidos, a retirada da cidadania só pode ocorrer por meio de um processo judicial de “desnaturalização” e apenas em casos extremos, como crimes hediondos ou fraude no processo de naturalização. Essa medida é considerada rara e politicamente delicada. Presidentes não têm autoridade para deportar cidadãos naturalizados, tampouco podem emitir ordens executivas com esse objetivo.
A tentativa de descredibilizar Musk por sua origem estrangeira reflete a crescente tensão entre o magnata e o presidente, que foram aliados no campo político e econômico. Nos últimos meses, Musk se distanciou de Trump e passou a criticar abertamente a gestão republicana, chegando a sugerir a criação de um novo partido político de viés libertário, inspirado no modelo argentino liderado por Javier Milei.
Disputa atinge subsídios
Em resposta às críticas, Trump ameaçou cortar bilhões em subsídios públicos destinados às empresas de Musk, como Tesla, SpaceX e Starlink. “Acho que vamos ter que colocar o DOGE [Departamento de Eficiência Governamental] contra o Elon”, ironizou Trump durante entrevista, ao mencionar um suposto órgão de controle que poderia retaliar o empresário.
Ainda assim, existem limites práticos nessa disputa, já que as empresas de Musk desempenham papel estratégico no fornecimento de tecnologia militar, satélites e comunicação via Starlink, mantendo contratos diretos com o governo dos EUA. Essa dependência federal torna improvável qualquer medida extrema contra o bilionário.
Novo partido?
A proposta de Musk de fundar um novo partido enfrenta obstáculos estruturais. O sistema bipartidário americano é considerado um dos mais rígidos da política global, com forte concentração de poder nos partidos Republicano e Democrata. Partidos como o Libertário, que já existe, têm representação mínima e nunca conquistaram cargos majoritários relevantes em nível federal.
Embora o discurso de Musk encontre eco entre parcelas do eleitorado desiludidas com os partidos tradicionais, a viabilidade de uma nova força política permanece remota. O bilionário, no entanto, mantém influência sobre setores-chave da política, economia e tecnologia dos EUA, o que lhe garante visibilidade e poder de barganha — mesmo fora das instituições formais.
 
								 
															 
								 
								 
								 
								


